Representações do Negro na Sociedade
Brasileira.
Os meios de comunicação, a TV, a internet, a
música, as tecnologias de informação, a publicidade preenchem diversas funções
na vida cotidiana. Uma das mais importantes funções destes meios de comunicação
é mediar nossa experiência, nosso conhecimento para com a realidade. Os meios
de comunicação são, sobretudo, linguagem,
e a linguagem nos caracteriza como seres capazes de cumprir tarefas
especiais. Nós, assim, lidamos, através da linguagem com o que nos rodeia. Nós Conhecemos,
experimentamos, lidamos, adquirimos, conhecimento não apenas pela
experiência direta com a realidade, mas também por meio de formas de representação
simbólica dessa realidade.
Por ter esse poder de representar, ou digamos,
apresentar o não visto na experiência concreta os meios de comunicação tem o
poder de criar imagens e símbolos que “re-construa” a realidade. Influenciando o
imaginário social acerca dos fatos da vida cotidiana.
Para nós é importante tentar
compreender ou descobrir a forma como essas representações sociais
mobilizam os sujeitos e lhes oferecem determinada visão da realidade.
Quando falamos de Racismo, num
país, numa sociedade, numa instituição, pensamos em como os Grupos minoritários
são Representados, como suas imagens são construídas midiaticamente e,
consequentemente, como o grupo – no Brasil a população negra – é percebido. Estamos
assim buscando entender como a construção social da maneira de como os sujeitos
é produzida, além de entender como estes sujeitos passam a perceber a si mesmos.
Como
a sociedade brasileira tem tratado essas coisas?
A Jornalista britânica Daisy
Donavon diz em um de seus programas que examina as diferentes TVs do mundo que “atelevisão é a janela da alma de uma nação”. Ela está enfatizando a forma como
os meios de comunicação expressam as formas de pensar de uma coletividade ao
mesmo tempo em que também a forma. Diante deste pressuposto poderíamos nos
questionar: Como
a TV brasileira representa homens e mulheres negras no país?
Alguns pesquisadores como Joel
Rufino dos Santos já há muito demonstrou que a TV brasileira sustenta
continuamente um conjunto de estereótipos nocivos para a representação da
população negra, que com o passar dos anos continua a se reproduzir.
Basicamente estes estereótipos são baseados no imaginário escravocrata e podem
ser resumidos da seguinte maneira:
-
Negro de índole escrava (humilde e resignado) – ex: Tia Nastácia, Pai Tomás
- A
escrava Imoral , tarada. Ex: Xica da Silva.
- O
escravo demônio, quilombola selvagem, traiçoeiro e ingrato.
- A
mulata sedutora, lascívia, símbolo da sensualidade
- O
negro esportista.
- O
negro engraçado.
Além disso, estes folhetins
televisivos, que são em sua maioria as Novelas em seus formatos, roteiros e
atores costumeiros, são inaptos ao tratar dos temas raciais brasileiros.
Sabemos que até o início dos anos 90, nenhuma novela tratou do conflito racial
brasileiro diretamente. Os personagens negros sempre apareciam em papeis
secundários: serviçais, empregadas domésticas, porteiros, criminosos. Esse
quadro, que só começou a ser mudado recentemente se, alterou ou sofreu pressão
do próprio movimento negro incomodado com o tipo de representação delegado à
população negra do país.
A novela Pátria Minha, exibida entre 1994 e 1995, possui uma cena
ilustrativa destes problemas de representação: Um jovem negro é acusado por um
patrão Racista. A ação se passa totalmente sob um clima de injúrias e
violências humilhantes, mas ao personagem negro só resta a resignação. O
folhetim oferece a imagem de um jovem sem autonomia e incapaz de esboçar
qualquer reação frete as injurias desumanizantes do Sujeito racista diante de
si. (curiosamente a única reação que o jovem é capaz de produzir é baseado em
sexismo, chamando o seu agressor de “corno”, trocando o racismo pelo machismo
na cena).
As ações movidas pela ONG negra
paulista Geledés, enviou uma interpelação formal contra a Rede Globo. Eles
alegavam que a representação feria a auto-estima da comunidade negra. Embora
não houve nenhuma punição contra a emissora, em uma novela seguinte no mesmo
horário, apareceu a primeira família negra de classe média em uma novela.
A ação da ONG é importante para
notar que no Brasil sempre houve uma necessidade de se construir espaços para
representações justas e dignas da população negra, apresentando-os dentro de
sua diversidade, seja no campo da ficção ou nos produtos audiovisuais
jornalísticos.
Não é raro encontrar em
Animações antigas e mesmo nas atuais personagens negros estereotipados,
representados como selvagens, semi-humanos, exóticos, que causam risos e via de
regra antagonizam a trama ou o protagonista.
Um texto interessante do
blogueiro Alex Castro, por exemplo, trata de como nas produções audiovisuais da
cultura pop como as animações. A concepção de personagens que cada sujeito faz
em sua própria cabeça com relação à ficção que está lendo é guiada por nosso
senso de que é normal, racialmente falando, assim
A mesma situação vive Mulher
Negra no Brasil.
A representação da Mulher Negra no Brasil.
Como herança da colonização do
Brasil e a escravidão negroaficana, as mulheres negras no Brasil estão sujeitas
a formas de racismo e sexismo que perduram na cultura nacional. Pesquisadores
tem demonstrado que “a representação social da mulher negra ampara-se no esteio
dos resquícios escravistas presentes na nossa sociedade” (Libence, 2014).
A pedagoga baiana Paula Libence,
escreveu um texto muito instrutivo em seu blog, que pode ser lido aqui, que faz
uma análise de como esta herança escravista infligiu no comportamento
brasileiro uma desastrosa forma de enxergar a mulher negra, seu corpo e
qualquer concepção de pessoa que se possa atribuir a este grupo social. Um
destes resultados é a sexualização do corpo da “Mulata”. Sabemos que a violência
sexual, perpetrada através do estupro, era uma ação corriqueira no cotidiano
das mulheres escravas no período colonial. Alguns historiadores – como Gilberto
Freyre - a via como uma ação civilizatória, que possibilitou o intercurso entre
brancos e negros. Sabemos também que sob as práticas de violência sexual da
herança escravista criaram e recriaram o preconceito e o imaginários contra a
mulher negra, atribuindo a seu tipo físico a possibilidade de ser explorada
(“as negras são fortes”), o que se desdobra até mesmo num atendimento médico
marcado pelo racismo, como é o caso de mulheres negra que recebem menos
anestesia durante os partos. Além disso as suas características físicas das
mulheres negras, durante muito tempo, se tornaram indesejadas, restando-lhes
apenas a “imagem da mulher como fonte de sexo fácil” (Libence, 2014). Felizmente
esse imaginário é combatido há tempos no Brasil pelas mulheres dos movimentos
negros, mas ainda há uma longa jornada de aceitação e reconstrução para que a
sociedade se torne saudável, reconheça e admire ou pelo menos respeite as diferenças
étnicas.
Racismos e subjetivação: A formação do EU.
As representações dos negros
resultam num efeito psíquico que influencia a auto-imagem dos indivíduos do
grupo social. Esse processo de auto-imagem é construído através da identificação
que o sujeito constrói ao longo da vida com as figuras de referência. “A imagem
que se tem de si próprio está diretamente vinculada com a imagem que se tem do
grupo e seus valores”. Por isso, nos
processos de socialização, o sujeito adota subjetivamente os valores que lhes
são passados pelo grupo.
Ninguém se inferioriza antes que
haja uma inferiorização do seu EU. É
só no contato, nas relações diárias em que os valores demonstram o caminho a
ser percorrido para a estrado do normativo, do belo, do bom, que os valores do
que se contrasta se torna o feio e o ruim.
O conhecido teste da boneca, que
foi realizado pela primeira vez em 1939 pelo casal de psicólogos afro-americano Kenneth Clark e Mamie Phipps Clark, demonstra concretamente como já em
crianças o racismo é absorvido numa relação de autoimagem depreciada.
Para que este quadro de representações mude, como argumentas pensadores como Grade Kilomba, Djamila Ribeiro, Abdias Nascimento é necessário que mudemos as configurações de conhecimento sobre o mundo e para que isso aconteça é preciso que se modifique as configurações de poder. É pessoas que estão nas margens sendo representadas de forma injuriosa adentrem nos espaços que produzem as representações, no cinema, nas produtoras, na publicidade, nas escolas como educadores, nas universidades. Em suma, somente através do protagonismo - e o apoio para que este protagonismo se torne real - destes atores representados é que esse quadro pode se modificar.
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