Correção do Questionário: Povos indígenas no Brasil.
Embora as respostas sejam subjetivas, esperava que elas argumentassem mais ou menos no sentido das respostas que dei para cada questão abaixo:
Respostas
para Questionário
1)
O que é que dizer o termo “índio genérico”? Quais os riscos sociais trazem tal
concepção dos povos indígenas?
As imagens
e estereótipos associados ao índio sempre os colocaram na condição de
primitividade e o consideram como sujeitos muito mais próximos da natureza e da irracionalidade do que do lado da civilização. Isso se expressa, por exemplo, em termos utilizados cotidianamente para descrevê-los como “selvagens”,
“bugres”, “bixos” ou “brabos”. O que impressiona em todas estas representações é que,
embora o indígena seja um homem e possua uma língua
e cultura, o seu enquadramento é sempre relacionado ao mundo animal; e quando
se focalizam os seus elementos de humanidade e os itens de sua cultura, é
sempre para demonstrar a sua extrema simplicidade, ou, inversamente, para aponta-los
como seres exóticos, extravagantes, ou no extremo, verdadeiras “aberrações” no
mundo contemporâneo.
Assim
,“índio genérico” é um estereótipo através do qual a sociedade nacional percebe
e classifica os diferentes povos indígenas, numa postura de extrema ignorância
para com a diversidade histórica, social, ontológica e cultural destes povos.
As dimensões políticas e sociais ao empregar esta noção dos indígenas são devastadoras. Quando não
conseguir apreender os povos indígenas como povos diversos e detentores de
especificidades e qualidades particulares o que se produz é uma grande
tipificação de seus comportamentos e práticas que são atribuídas
pejorativamente. Este efeito pode ser constatado na educação, por exemplo, onde
a escola não educa para que os jovens tomem conhecimento do que são os povos
indígenas, sua história, suas características e os problemas contemporâneos que
enfrentam.
2) O que motiva os ataques aos diversos povos indígenas em conflitos
com fazendeiros em diversas regiões do Brasil? Lembrem-se dos casos recentes do
Maranhão, os casos corriqueiros do Mato Grosso do Sul, etc.
Descreva o processo histórico destes
ataques e como os conflitos se deram ao longo do tempo.
A posse da terra é uma questão complexa no Brasil. Ao longo da
história do país as terras indígenas e as riquezas dos recursos naturais
provenientes delas se tornaram alvo da avareza e da ganância de pessoas ligadas
ao agronegócio. Os casos de expulsão das terras, em que fazendeiros aparelhados
pelo poder público, político e econômico, são abundantes. Podemos ver
claramente essa linha histórica no caso dos conflitos do Mato Grosso do Sul.
Uma política de estado que se adensa no início do séc. XX e tem por objetivo
tomar a terra dos povos indígenas e assentar ali grandes propriedades de
monocultura. Essa política é realizada num quadro internacional, onde o Brasil passa
a produzir commodities agrícolas
(principalmente grãos), para suprir o mercado externo, importando produtos
industrializados destes mercados.
Com
o passar dos anos, como no caso Kaiowá, os indígenas têm tentado reaver suas
terras tomadas através desta política, e os conflitos têm dizimado a população.
A violência contra os povos indígenas são de diversas naturezas: eles são
privados dos seus modos de vida originário, já que não possuem acesso à terra,
são impossibilitados de se alimentarem conforme suas práticas alimentares,
recebendo cestas básicas, a desnutrição das crianças indígenas no MS é 9 vezes
maior que o restante da população brasileira, além disso estão sob ataque
armado constantemente dos pistoleiros contratados pelos fazendeiros-políticos
da região. Mas embora a situação de fragilidade social seja uma realidade para
muitos povos indígenas, eles continuam resistindo e se organizando para a
retomadas de seus territórios, fortalecendo assim suas identidades originárias
e mostrando se presente como uma população ativa dentro do contexto nacional.
3) O que são as terras indígenas? Descreva o que ela são de acordo com
a definição jurídica e de acordo com a visão de mundo (cosmovisão) dos povos
indígenas.
De acordo
com a constituição terras indígenas são aquelas ocupadas pelos indígenas em
caráter permanente e das quais são indispensáveis para a reprodução social,
cultura e biológica dos povos que nela habitam. Esta definição jurídica, existe
mais para a sociedade “branca” do que para a indígena, pelo menos para que as
instituições ocidentais “civilizadas”, o sistema judiciário, o poder público, O
estado, etc. compreenda e tenha um conceito legal para operar. As terras indígenas são antes de tudo terras as
quais os indígenas pertencem. E isso não é simples. O pensamento indígena com
relação à terra é inverso ao nosso, pois para eles a terra não é um meio de
produção, ou seja ela não pertencem a determinado indígena, os indígenas é que
pertencem a ela. Portanto, o uso da terra não pode ser feito indiscriminadamente.
Além disso, quando os indígenas pensam na terra eles estão pensando de modo
amplo, nos animais e outras criaturas que vivem nela, na sua criação, seu
sentido espiritual, cultural e político.
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Leiam este
trecho do Livro “A queda do Céu” do Xamã ianomâmi Davi Kopenawa e notem algumas
dessas noções:
“Nossa língua
é aquela com a qual ele nos ensinou a nomear as coisas. Foi ele que nos deu a
conhecer as bananas, a mandioca e todo o alimento de nossas roças,27 bem como
todos os frutos das árvores da floresta. Por isso queremos proteger a terra em
que vivemos. Omama a criou e deu a nós para que vivêssemos nela. Mas os brancos
se empenham em devastá-la, e, se não a defendermos, morreremos com ela. Nossos
antepassados foram criados nesta floresta há muito tempo. Ainda não sei muito a
respeito desse primeiro tempo. Por isso penso muito nele. Assim meus
pensamentos, quando estou só, nunca são calmos. Busco no fundo de mim as
palavras desse tempo distante em que os meus vieram a existir. Pergunto-me como
seria a floresta quando era ainda jovem e como viviam nossos ancestrais antes
da chegada das fumaças de epidemia28 dos brancos. Tudo o que sei é que, quando
essas doenças ainda não existiam, o pensamento de nossos maiores era muito
forte. Viviam na amizade entre os seus e guerreavam para se vingar de inimigos.
Eram como Omama os havia criado.
Hoje, os
brancos acham que deveríamos imitá-los em tudo. Mas não é o que queremos. Eu
aprendi a conhecer seus costumes desde a minha infância e falo um pouco a sua
língua. Mas não quero de modo algum ser um deles. A meu ver, só poderemos nos
tornar brancos no dia em que eles mesmos se transformarem em Yanomami. Sei
também que se formos viver em suas cidades, seremos infelizes. Então, eles
acabarão com a floresta e nunca mais deixarão nenhum lugar onde possamos viver
longe deles. Não poderemos mais ca- çar, nem plantar nada. Nossos filhos vão
passar fome. Quando penso em tudo isso, fico tomado de tristeza e de raiva.”
Leia o capítulo na íntegra aqui: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/12959.pdf
4)
Qual a importância política, ecológica, social e ética de demarcar as terras indígenas?
Descreva
os efeitos políticos e sociais que podem acontecer com a não-demarcação das
terras indígenas e o cenário político brasileiro atual com relação à demarcação
de terras.
É
necessário que as demarcações de terras indígenas aconteçam, primeiramente do
ponto de vista democrático, pois na constituição de 1988 o texto prevê que este
processo deveria ser feito no prazo de cinco anos, para assim alcançar a paz e
a justiça das situações conflituosas em diversas localidades do país. No entanto
este processo se estende até os dias de hoje, e encontra-se ameaçado por
desejos individuais de grupos que comandam o congresso nacional. O caso é que o
não cumprimento das leis constitucionais demonstra a fragilidade das
instituições políticas brasileiras e com isso a fragilidade da democracia no
nosso país. Demarcar as terras indígenas é colocar em prática o que a nossa
constituição prevê, lembrando que tal constituição foi criada justamente no
período de abertura política para fortalecer a democracia nacional após mais de
20 anos de governo militar.
As
demarcações contribuem também para a preservação ambiental, constituindo assim
uma política eficaz para a manutenção da riqueza natural do país, que é alvo do
crescente desmatamento. No plano ético,
é importante que o Brasil defenda e faça prevalecer a sua diversidade cultural
e étnica, além de lutar contra o racismo e as desigualdades sociais oriundas da
depauperação das comunidades indígenas fragilizadas com a retirada de suas
terras.
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